Nas épocas douradas (lê-se anos 70/80) era comum cruzar por jovens nas ruas ouvindo no rádio, no gravador ou nas vitrolas de suas casas bandas como
Guns 'n' Roses e
Iron Maiden. Adoradores de músicas agitadas ouviam Michael Jackson ou
disco, sucessos de discotecas criativas cheias de novidades empolgantes. As músicas eram recheadas de coisas novas, sintetizadores, novas instrumentagens, a melodia se tornava cada dia mais complexa e alegre de se dançar. Artistas de diversos países, americanos, asiáticos e europeus, cedendo à novidade e descobrindo seus talentos, criando música difícil de se tecer porém simples e prazerosa de se ouvir.
A tecnologia nunca para de evoluir, como já disse em posts anteriores deste blog, e obviamente, como em variados ramos e décadas (exemplos são filmes, videogames, meios de pesquisa, de comunicação etc), a tendência é de que a cada dia que passa possamos desfrutar de canções cada vez mais lindas, divertidas e tocantes, esperando que a música acompanhe o avanço tecnológico das outras áreas. Porém toda essa esperança desce esgoto baixo quando você, em pleno 2010, cruza com um jovem estudante nas ruas, com seu iPod em alto volume, ouvindo (e mostrando orgulho em ouvir) uma batida seca e repetitiva, acompanhada por uma voz sem timbre e tempo, 'falando' algo mais ou menos assim: "é só socada braba". O que aconteceu com o gosto musical dos jovens?
Basta olhar para outras formas de entretenimento que são sucesso em meio à nova geração. Programas apelativos, reality shows, mulheres semi nuas, é claro que um programa como Superpop, de Luciana Gimenez, por exemplo, com um desfile de modelos de lingerie e altos closes, vai ter mais audiência que uma pergunta sobre variedades no game show Um Contra Cem, de Roberto Justus. A população está mais interessada em sacanagem do que conhecimento. Isso pode explicar porque letras que proferem o sexo sem compromisso e a nudez feminina são tão adoradas hoje em dia. Enquanto pessoas talentosas se esforçam para fazer sucesso no Raul Gil e no Silvio Santos, gente como MC Créu e MC Luan ganham dinheiro simplesmente sem talento algum.
É incrível como o 'funk carioca' (sim, porque a palavra 'funk', quando usada sozinha, é aquela arte que gênios como
James Brown e
Kool & The Gang faziam) decolou de seu ponto de origem, ou seja, favelas, e pousou em meio a outras classes sociais.
O 'funk carioca' nada mais é do que um passatempo, e/ou uma forma de ganhar dinheiro, das pessoas menos favorecidas pelo país. Não é preconceito, longe disso. Dentro da favela, dentro de onde vivem, estas palavras e esta visão das mulheres e do sexo é mais do que comum. Com a ausência de preparo musical e materiais de qualidade, os bailes com um alto falante e uma bateria eletrônica já fornecem o necessário para expressar o que os "MC's" querem. O que surpreende é como esta 'música', sem qualquer produção, talento ou melodia, que exprime somente a prostituição de vários atos, possa vir a fazer sucesso entre pessoas que possuem mais conhecimento, escolaridade, meios de pesquisa e visão musical. Tá, este último ítem pode ser retirado.
Também não estou dizendo que não haja talentos nestes locais. Longe de mim. A cadeia musical que atinge estas áreas vem de rappers como
Racionais MC's e
MV Bill, ou seja, letras frias porém com sensacionais rimas. Ambos artistas vieram da favela e sou fã assumido.
Resumindo, a "moral" da fábula deste post é mostrar como que, quem tem talento, não importa se mora na favela ou no apartamento, consegue se destacar fazendo o que sabe. Já quem não tem, e mora em regiões desfavorecidas, em sua maior parte favelas, faz funk (carioca).